Articulação de solidariedade e compromisso de luta
Organizações realizam reunião em Joaquim Nabuco(PE) para discutir ações que contribuam para diminuir sofrimento das populações atingidas pelas cheias
Um grupo de entidades filiadas a Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) e uma articulação de mulheres que atuam na Zona da Mata estiveram reunidas na quarta-feira, 07, em Joaquim Nabuco (PE) para discutir ações que contribuam para atenuar a situação dos/as atingidos/as pelas enchentes na região. A ideia é ir além da solidariedade da arrecadação de donativos, pensando estratégias de organização local e regional para que as famílias do campo e da cidade possam ter seus direitos assegurados no processo de reconstrução dos municípios e nas políticas públicas planejadas para a Zona da Mata pernambucana.
O quadro apresentado é preocupante. Os municípios estão com dificuldades na organização dos cadastros das pessoas atingidas pelas enchentes, tanto as que tiveram suas casas destruídas como as que ainda têm as casas, mas perderam todos os seus pertences. As informações não circulam e muitas das secretarias municipais de assistência social não estão desempenhando devidamente o seu papel no acompanhamento das famílias. Isso tem dificultado a entrega dos donativos nas áreas urbana e rural.
Na área rural, o drama ainda é maior, porque os gestores públicos ainda não fizeram um levantamento dos atingidos. Há falta de comunicação entre o campo e a cidade. Os acessos estão prejudicados e muitas famílias estão praticamente isoladas. No Engenho São João da Prata, em Palmares, há 120 famílias i soladas, porque a ponte caiu e a única forma de acesso é via jangada ou pequeno barco. Esta dificuldade afeta a entrega de alimentos e outros materiais necessários para as famílias, pois as cestas básicas que são levadas para lá nunca é na quantidade do número de famílias existentes no engenho.
Encaminhamentos: o Articulação de organizações discutiu com os/as presentes as ações de urgências para minorar a situação das famílias neste momento. Alguns projetos estão sendo encaminhados para arrecadar fundos para a compra de equipamentos de segurança, limpeza e de higiene, colchões, lençóis e toalhas, que são os itens de maior necessidade. Também foram formados grupos de trabalho para levantar as diferentes denúncias apresentadas, além de buscar o diálogo com os gestores públicos para discutir os diversos problemas que vem atingido as populações vítimas das enchentes. A preocupação é de acompanhar todos os processos de reorganização dos municípios a curto, médio e longos prazos, objetivando interagir na busca de soluções para o caos que se formou na região da Mata Sul Pernambucana.
Na ocasião, integrantes da Rede em Defesa dos Direitos Humanos das Mulheres da Mata Norte e Centro e da Articulação de Mulheres da Mata Sul divulgaram uma Nota Pública intitulada “Realidades e Contextos SEMPRE Desiguais e Desafiadores – na qual questionam os governos sobre as etapas do processo de “reconstrução”. Sobre como a sociedade civil será escutada.
Alguns depoimentos:
“É urgente que engenheiros e arquitetos avaliem a situação de algumas casas na cidade. Elas estão ameaçadas de cair e as pessoas estão dentro delas. Outro grande problema é que na entrega dos donativos há muito apadrinhamento. Não há medicamentos. E para completar, pessoas que querem roubar o que restou dentro das casas espalham pela cidade alarmes falsos de que a barragem estourou, causando desespero. Existem homens e mulheres com problemas de coração que já morreram por causa disso” – Diana Eugênia, Palmares.
“Lá, caíram 30 casas. Por sorte, ninguém morreu. A gente (ela, marido e filho) tá dormindo no lugar que a gente criava as galinhas. Sei que as galinhas também queriam proteger os pintinhos delas, como eu queria proteger o meu filho, mas não teve jeito de deixar elas ficarem lá. Perdi toda a minha horta. Eu fazia farinha, mas hoje não tenho como fazer nem como vender. Não sei o que vai ser da gente. Esses dias dei uma bolsa de leite que ganhei para uma mulher que tinha um filho pequeno. O meu filho já é um pouco grande e ela precisava mais do que eu. Eu não sei como recomeçar. O pouco que tenho é do Bolsa Familia e de um pouco de goma que consegui vender. Lá, a gente não tem nem hospital, nem vacina. As cestas que chegam não dão para a quantidade de famílias que existe no assentamento” - Rosemira de Lima – Assentamento São João da Prata.
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