Boletim Vacinas Posithivas [edição nº 2]
Boa leitura!!!
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O projeto Cozinha Solidária inaugurou nesta segunda-feira (26) o novo espaço, com uma melhor estrutura e equipamentos para atendimento do público. O evento contou com a presença de beneficiários e colaboradores do GTP+, parceiros e representantes governamentais. Para o coordenador do Programa Estadual de DST/Aids de Pernambuco, François Figueirôa, a Cozinha Solidária promove a diminuição do preconceito com os soropositivos. “Este projeto promove solidariedade para com as pessoas vivendo com o vírus HIV. Aumenta a auto-estima, e com a proposta da Escola de Culinária vai estimular a profissionalização”, completou.
Durante a inauguração, o coordenador geral do GTP+, Wladimir Reis, contou sobre o trabalho que a Cozinha Solidária realiza. “Desde seu início em outubro de 2007, a Cozinha Solidária gradativamente vem se tornando uma fonte de recursos para a organização. Além disso, minimiza o preconceito ao HIV e auxilia na prevenção ao HIV/AIDS, já que os clientes convivem com pessoas positivas”.
A Cozinha Solidária surgiu para atuar na segurança alimentar de pessoas vivendo com HIV/AIDS que participam dos demais projetos propostos pelo GTP+, através da produção de refeições e lanches nutritivos e balanceados. “É sempre muito bom almoçar na Cozinha Solidária, que nos proporciona uma alimentação adequada, e agora com o novo espaço, está mais acessível à população que tem alguma dificuldade de locomoção”, disse Salmir Freire, beneficiário da instituição. Para outro parceiro do GTP+, Roberto Brito, integrante da RNP-PE, esse projeto mostra a superação de pessoas vivendo com HIV contra o preconceito. “Que ele sirva de exemplo também para outros soropositivos”, completou.
Há cerca de dois anos a Cozinha Solidária lançou a campanha “Uma deliciosa forma de ajudar”, em parceria com a organização The International Exchange (TIE) e a Inata-AESO, o que resultou em novas parcerias para o projeto. A campanha teve como objetivo desmistificar tabus de como se pega o vírus e minimizar a discriminação. O restaurante , que teve a estrutura e os equipamentos viabilizados por uma parceria do GTP+ com a USAID/Brasil e a Pact, é formado por uma pequena equipe, um cozinheiro e mais três auxiliares de cozinha para a produção de refeições que atende cerca de 50 pessoas por dia. Toda a verba adquirida é revertida para o atendimento aos soropositivos, e continuidade do projeto. Além de fornecer almoços e lanches diários, também recebe encomendas de pequenos e médios eventos de organizações não-governamentais. O próximo passo é tornar realidade a Escola de Culinária, para isto o GTP+ busca apoio de recursos para ampliar a equipe e a infra-estrutura local.
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7 de abril de 2010, Dia Mundial da Saúde
DST, HPV e equidade na atenção
Artigo de Mauro Romero Leal Passos
Professor associado, chefe do Setor de DST da Universidade Federal Fluminense.
Editor-chefe do Jornal Brasileiro de DST
Algumas pessoas acreditam que está tudo escrito no destino. Outras lutam por um destino.
Hoje, 7 de abril de 2010, Dia Mundial da Saúde, vamos argumentar em defesa de pessoas que sofrem de doenças que, além de causar sérios problemas orgânicos, são milenarmente vinculadas a marcantes preconceitos.
Não há mais dúvidas de que a infecção por HPV é uma doença sexualmente transmissível das mais incidentes e prevalentes, em todo o mundo, acometendo homens e mulheres de todas as classes socioeconômicas.
Não há mais dúvidas de que já passou a hora de se oferecer equidade na atenção às doenças transmissíveis, deixando de se priorizar apenas algumas, para dar cobertura ampla à saúde sexual e reprodutiva.
Não há mais dúvidas de que as vacinas estão entre os maiores benefícios para o bem-estar da espécie humana, como também de vários outros animais que nos cercam como bovinos, caninos, equinos...
Não há mais dúvidas de que vacinas profiláticas contra HPV, causadores de verrugas e de neoplasias anogenitais, são altamente eficazes (acima de 90% para verruga e mais de 70% para as neoplasias) e estão disponíveis em todo o mundo, desde 2006.
Não há mais dúvidas de que, havendo uma vacina profilática contra o HIV, com eficácia de pelo menos 30%, esta será celeremente distribuída gratuitamente pela rede pública, especialmente no Brasil.
Não há mais dúvidas de que, para o HIV, as ações públicas e das ONGs, no Brasil, estão entre as melhores do mundo, havendo, inclusive, reconhecimento da comunidade científica e de políticos mundiais. Todavia, não há mais dúvidas de que estes mesmos setores, nas ações contra as clássicas DSTs, estão mais perto do fracasso do que da eficiência. Não lutam com a mesma disposição e tampouco são ativos como o são com relação à infecção pelo HIV (trabalho de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação; preocupação com direitos humanos e inserção social...). Pregam a luta contra as desigualdades de gênero, contra a homofobia, contra a vulnerabilidade das mulheres à infecção pelo HIV, lutam pela disponibilidade gratuita e universal de meios de diagnóstico e de tratamentos medicamentosos clássicos e em estudos, mas muito pouco fazem diante da sífilis, da clamídia, das vaginites, do HPV...
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, pelo menos 4 mil mulheres morrem a cada ano, no Brasil, por câncer do colo do útero. Entretanto, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, são mais de 8 mil mortes.
A Sociedade Brasileira de Urologia, no ano passado, esforçou-se na luta contra o câncer de pênis (mais da metade são causados por HPV), divulgando que mais de mil pênis são amputados anualmente, no Brasil (segundo fonte do SUS).
Temos vacina para estes e para outros males que o HPV causa, mas os gestores públicos emitem documentos dizendo que são necessários mais estudos em nosso meio.
O governo da Austrália, por exemplo, já vacinou, desde 2007, gratuitamente, mais de 80% das adolescentes das principais cidades daquele país. Pesquisadores australianos já apontam importantes reduções de doenças (verrugas e neoplasias) em mulheres e em homens com até 28 anos de idade. Será que as dezenas de estudos publicados em diversos periódicos científicos mundiais, incluindo brasileiros, não são válidos para o Brasil?
Muitos gestores só funcionam quando há pressão. A imprensa (escrita, falada, televisada e internetizada), mostrando pessoas em filas de ambulatórios ou agonizando em prontos socorros, mais do que expor o sofrimento do outro, joga luz na ineficiência de muitos administradores.
O exemplo da gripe suína, ou melhor, influenza H1N1, explode na nossa face. No ano passado, diariamente, a mídia nos inundava com matérias sobre o problema. Em menos de um ano, o poder público brasileiro foi capaz de fechar contratos e montar campanhas (inclusive publicitária) para tentar vacinar mais da metade da população brasileira com uma vacina desenvolvida em menos de um ano. Parabéns, mesmo, pela eficiência. Mas que conflitos existem para que não se faça o mesmo pelas doenças causadas pelo HPV? Falta de recursos financeiros ou de vontade política (de saúde pública)?
Morreram, no ano passado, por complicações da gripe, cerca de 3 mil pessoas no Brasil, contando com os bebês das grávidas.
Será que a morte por HPV - câncer de colo uterino, de pênis, de vulva, de vagina, de ânus (o câncer de ânus é mais frequente em homens homossexuais, infectados pelo HIV), de laringe - é menos importante do que a morte por gripe H1N1? Será que existe morte mais importante?
Em 15 de abril último, o ministro da Saúde, o colega José Gomes Temporão, em entrevista a Jô Soares (http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1230079-7822-MINISTRO+JOSE+GOMES+TEMPORAO+FALA+SOBRE+A+SAUDE+NO+BRASIL,00.html), disse que o problema da dengue só será resolvido com uma vacina. Quando Jô perguntou sobre as DSTs, o ministro falou de “blenorragia, sífilis e aids” e nada comentou sobre HPV (a DST viral mais prevalente) ou sobre vacinas profiláticas contra esses vírus.
É tema difícil de abordar: sabendo-se da eficácia e disponibilidade mundial de vacina contra HPV, quem será responsável pelos casos futuros das doenças causadas por esses vírus, quando não se ofertam meios para que sejam evitadas, principalmente para os jovens de populações de baixa renda?
Devido à adesão bem menor do que a esperada (que estudo foi feito para se esperar um número maior?), não será surpresa se milhares de doses da vacina contra influenza H1N1 acabem sendo jogadas fora. Caso realmente haja sobra de vacinas, que os gestores brasileiros as ofereçam, rapidamente, a países vizinhos. Se não forem usadas agora, estas vacinas nada valerão até o final do ano.
Por decisão acertada, de boa prática em política pública de saúde, o SUS ampliou a oferta de vacina contra hepatite B no Brasil, a partir de março deste ano (20/03/10; http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISE77B47C8ITEMID18CAB45D5BC64DDBB9BD426D1FCF7CFEPTBRIE.htm). Todavia, deixaram de incluir as pessoas simplesmente heterossexuais, já que “homens que fazem sexo com homem, lésbicas, bissexuais e transgêneros” estão no rol dos “grupos” beneficiados pela cobertura pública oficial. Homens e mulheres heterossexuais não correm o risco de contrair hepatite B?
Para concluir, alguns dados sobre a transmissibilidade do HPV:
- Probabilidade de transmissão de HPV por ato sexual varia de 5% a 100% com mediana de 40%. (Burchell et al. Modeling the sexual transmissibility of human papillomavirus infection using stochastic computer simulation and empirical data from a cohort study of young women in Montreal, Canada. Am J Epidemiol 2006; 163(6): 534-43);
- Transmissão de HPV de homem para mulher é de 60% para HPV 16. (Barnabas et al. Epidemiology of HPV 16 and cervical cancer in Finland and the potential impact of vaccination: mathematical modeling analyses. PLoS Med 2006; 3(5):e138);
- 70% (35/50) dos parceiros sexuais de mulheres infectadas por HPV foram positivos para HPV (Captura Híbrida II): 32% para “alto risco”; 14% para “baixo risco” e 24% para ambos. (Nicolau SM et al. Urology 2005; 65(2); 251-5);
- Lesões planas do pênis: a infecção “invisível” ligada à transmissão
do papilomavírus humano (Bleeker MC et al. Flat penile lesions: the infectious “invisible” link in the transmission of human papillomavirus. Int J Cancer 2006; 119(11): 2505-12.62).
Conhecendo as altas taxas de transmissibilidade do HPV e as experiências traumáticas (para não dizer hediondas) que inúmeras pessoas (a maioria do sexo feminino) enfrentam, tais como violência sexual e estupro, desejamos registrar, também, a nossa indicação de vacinação contra HPV nesses casos, além da rotina amplamente divulgada.
Para que um problema seja resolvido, não bastam conhecimentos e habilidades. Há de acontecer atitudes: que a população pressione as autoridades competentes (divulgar este texto pode ser uma forma de pressão); que a indústria farmacêutica diminua a voracidade de lucros; que o poder público e os gestores do país cumpram seu papel oferecendo o que há de melhor para a saúde pública e que se esforcem por diminuir a abusiva carga tributária que onera o cidadão.
Assim, para nós, a atenção fica mais próxima de ser equânime.
Algumas pessoas acreditam que o povo brasileiro merece os seus governantes. Outros lutam para conviver com governantes que mereçam o povo brasileiro.
Desde sempre, posiciono-me no segundo grupo.
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